‘‘O que é fetichismo?” Essa pergunta é muito comum. Na verdade, muitas pessoas me perguntam se fetichismo é doença. Para responder essa pergunta, eu preparei esse artigo onde explico o que é fetiche, o que é fetichismo e como a comunidade médica determina quando o fetichismo passa a ser uma patologia.
Então, aproveite e boa leitura!
O que é fetiche?
Para o leitor que nunca ouviu falar sobre o assunto, de uma maneira simples e resumida, um fetiche é um objeto inanimado ao qual atribuímos propriedades sobrenaturais benéficas para o seu possuidor. Um amuleto ou um talismã (esses objetos que nos dão sorte) são sinônimos de fetiche.
O que é fetichismo?
Fetichismo é a adoração de um objeto dentro de um contexto religioso ou místico.
O que é Fetichismo sexual?
O fetichismo sexual é uma excitação sexual causada pelo contato visual e/ou físico de um objeto (como botas, sandálias, luvas, meias colantes etc.), de uma parte específica do corpo (como os seios, as pernas, as nádegas, o umbigo, o nariz, os pés etc.) ou de um material (como o couro, o látex, a seda, o veludo etc.).
Essa excitação sexual também pode ser causada pelo comportamento das pessoas envolvidas. Uma mulher pode se excitar, por exemplo, com o fato dela se sentir indefesa diante do desejo masculino que se manifesta com algumas imposições e às vezes até com a violência.
Fetichismo sexual é doença?
Muitas pessoas, inclusive psicanalistas e sexólogos, consideram o fetichismo sexual como uma variação normal da prática sexual.
Porém, a Classificação Internacional de Doenças (CID 10), publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), considera o fetichismo como um desvio sexual ou uma parafilia (nome científico dado às fontes de prazer sexual que não estão ligadas com a penetração em si).
Segundo o CID 10, o fetichismo sexual é classificado como um “transtorno de preferência sexual” juntamente com a pedofilia, o sadomasoquismo, o exibicionismo, o voyeurismo e outros transtornos de origem sexual.
Ainda segundo a classificação CID 10, o fetichismo, que implica a utilização de objetos inanimados como estímulo do comportamento e do desejo sexual, se aplica somente aos objetos que não são originalmente destinados ao estímulo sexual, como um vibrador, por exemplo.
Sendo assim, o fato de uma pessoa usar vibradores, anéis penianos ou plugs anais por exemplo, não significa que ela seja fetichista.
Além da Classificação Internacional de Doenças (CID 10), existe também o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais, que é um guia que contém informações que podem auxiliar no diagnóstico preciso e no tratamento de doenças mentais.
Esse guia é elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria e é utilizado por psiquiatras, psicólogos e profissionais da saúde no mundo inteiro.
Fetichismo no Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais
Segundo o Manual, o termo parafilia
“representa qualquer interesse sexual intenso e persistente que não aquele voltado para a estimulação genital ou para carícias preliminares com parceiros humanos que consentem e apresentam fenótipo normal e maturidade física.”
E o que isso quer dizer?
Isso quer dizer que a pessoa que tem parafilia, não busca o prazer sexual na relação sexual convencional (quer dizer, na relação sexual em si). Ela busca o prazer sexual em objetos, em situações ou em lugares que não têm necessariamente nada a ver com a estimulação genital.
Ainda segundo o Manual, para ser considerado uma parafilia, é necessário que essa forma substituta de sentir prazer seja praticada de maneira repetitiva e que essa seja a única forma que a pessoa tem de sentir prazer sexual.
O Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais indica que as parafilias geralmente começam na puberdade, mas os fetiches podem se desenvolver antes da adolescência.
Ainda segundo o Manual, não há relatos sistemáticos da ocorrência de transtorno fetichista no sexo feminino. Em geral, esse transtorno é relatado quase exclusivamente em indivíduos do sexo masculino.
Quais são as parafilias mais comuns?
Parafilias mais comuns
Algumas parafilias são mais frequentes do que outras, como por exemplo:
- o voyeurismo (espiar outras pessoas em atividades privadas),
- o exibicionismo (expor os genitais),
- o frotteurismo (tocar ou esfregar-se em indivíduo que não consentiu),
- o masoquismo sexual (passar por humilhação, submissão ou sofrimento),
- o sadismo sexual (infligir humilhação, submissão ou sofrimento),
- a pedofilia (foco sexual em crianças),
- o transvestismo (vestir roupas do sexo oposto visando excitação sexual)
- e o fetichismo (usar objetos inanimados ou ter um foco altamente específico em partes não genitais do corpo).
Parafilias menos comuns
Existe outras parafilias menos comuns como por exemplo:
- a necrofilia (relação sexual com cadáver),
- a zoofilia (prazer sexual com animais),
- a formicofilia (pequenos animais que percorrem o corpo todo, principalmente nas partes genitais: normalmente, os pequenos animais utilizados são as formigas, as lesmas e os caracóis),
- a urofilia (contato e ingestão de urina… o famoso Golden Shower : ) ),
- a coprofilia (cheiro, visão e contato com os excrementos humanos),
- a coprofagia (cheiro, visão, contato e ingestão dos excrementos humanos),
- o Fast Fucking (introdução da mão e até do antebraço inteiro dentro do ânus), e por aí vai… No final desse artigo, você pode ver uma lista enorme de parafilias.
Fetichismo sexual é parafilia
Como a gente viu até agora, a parafilia é substituta do prazer sexual, ela é a única forma de obter prazer sexual e ela é usada somente para obter prazer sexual.
Um dos grandes problemas da parafilia, é que o comportamento sexual do parafílico é caracterizado por impulsos sexuais intensos e recorrentes.
Como algumas parafilias possuem características nocivas (quer dizer que elas podem causar danos à outras pessoas), essa compulsão da parafilia pode acabar transformando um desvio sexual em um delito sexual, como é o caso por exemplo da pedofilia, da necrofilia, do exibicionismo e outros.
Por essa razão, é importante distinguir o que é um desvio sexual (que é uma parafilia) e o que é um crime sexual (que é um delito).
O desvio sexual não é necessariamente por si só um delito. Se um casal decide experimentar coisas novas, como comer cocô ou enfiar o antebraço dentro do ânus um do outro, isso não é nenhum crime.
Se o casal tenta coisas diferentes e depois passa para outro tipo de experiência, mesmo que não seja muito convencional, a gente não pode nem falar que isso é uma parafilia, quanto mais um delito.
Passa a ser um delito sexual, quando o impulso do parafílico leva ele a envolver outras pessoas que não deram o seu acordo. Como é o caso por exemplo do exibicionista e do pedófilo.
Quando o fetichismo sexual é uma parafilia
Um outro ponto importante sobre as parafilias, é que segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, para que uma parafilia seja considerada uma patologia (uma doença), ela tem que respeitar dois critérios:
A – Presença de impulsos sexuais intensos e recorrentes por período de pelo menos 6 meses.
B – Os impulsos sexuais ou comportamentos devem causar sofrimento ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em qualquer outra área da vida do indivíduo ou ainda deve causar danos ou risco de danos à outra pessoa.
Quando os dois critérios são respeitados, a parafilia é considerada uma patologia e é chamada de Transtorno Parafílico. Mas, os dois critérios devem ser respeitados.
Se o indivíduo respeita o critério A, mas não respeita o critério B, quer dizer, a parafilia dele não causa transtornos na sua vida e nem danos à outras pessoas, pode-se considerar que a pessoa tem parafilia, mas não tem transtorno parafílico. E nesse caso muitas vezes nem uma intervenção clínica é necessária.
Quando o fetichismo sexual não é uma parafilia
Se você gosta de…
um pouquinho de força na hora do sexo, se você gosta de tapa na cara, tapa na bunda e puxão de cabelo, você não é masoquista.
usar vibradores e outros brinquedinhos eróticos para variar um pouquinho a relação, você não é fetichista.
beijar os pés da sua mulher durante as preliminares, você também não é fetichista.
E, se você é homem e gosta de se vestir de mulher durante o carnaval para sair no bloco das piranhas, não… você não é um fetichista transvéstico!
Agora, leia com atenção os 7 sinais que indicam que o seu fetiche pode ser um transtorno fetichista. Caso você se identifique com esses sintomas, então, sugiro que você procure um médico.
7 sinais que indicam que o seu fetiche pode ser um transtorno fetichista
1 – Se você usa substitutos sexuais não muito convencionais (objetos inanimados, partes específicas do corpo, animais, excrementos, lugares estranhos etc.).
2 – Se você só sente prazer usando esses substitutos.
3 – Se você está em um relacionamento amoroso recíproco e você apresenta alguma disfunção sexual quando esses substitutos não estão disponíveis durante as preliminares ou o coito.
4 – Se você prefere atividade sexual solitária associada à(s) sua(s) preferência(s) fetichista(s) mesmo durante envolvimento em relacionamento amoroso e recíproco importante.
5 – Se você tem tendência a roubar e colecionar seus objetos de desejo fetichistas particulares.
6 – Se o uso dos substitutos sexuais te faz sofrer, te causam angústia, ansiedade, atrapalham o seu desempenho ou causam danos ou risco de danos à outras pessoas.
7 – Se esses impulsos sexuais são intensos e recorrentes e que você já está sofrendo por causa deles por período de pelo menos 6 meses.
Não esqueça: ter um fetiche é uma coisa. Praticar gestos fetichistas envolvendo outras pessoas é outra completamente diferente. Muitas vezes, as suas fantasias e a sua imaginação podem te levar a lugares sombrios e eticamente comprometedores.
Fique sempre atento a todo e qualquer índice ou sintoma (físico ou mental) diferente que aparece no seu corpo ou no seu comportamento.
Se você perceber que alguma coisa não está te fazendo bem, procure ajuda profissional o quanto antes. Lembre-se que o medo e a vergonha só atrapalham e atrasam o seu tratamento e a sua cura.
Eu espero que esse artigo tenha sido útil pra você!
Lista de parafilias
Como prometido, aqui está a lista de inúmeras parafilias. Será que você tem alguma?
Abasiofilia: atração por pessoas com mobilidade reduzida.
Acromotofilia: atração por pessoas com amputações.
Adstringopenispetrafilia: fetiche por amarrar pedras ao pênis.
Agalmatofilia: atração por estátuas (foto ao lado).
Agorafilia: atração por copular em lugares abertos ou ao ar livre.
Aiquemofilia: prazer pelo uso de objetos cortantes e pontiagudos.
Amaurofilia: excitação da pessoa pelo parceiro que não é capaz de vê-la – não se aplica a cegos.
Anadentisfilia: excitação e prazer sexual por pessoas sem dentes.
Anemofilia: excitação sexual com vento ou sopro nos genitais ou em outra zona erógena.
Asfixiofilia: prazer pela redução de oxigênio.
ATM (ass to mouth): prática em que o parceiro ativo, após o coito anal, leva seu pênis à boca da pessoa penetrada.
BBW: atração por mulheres obesas.
Biastofilia: estupro de uma pessoa inconsciente, geralmente um estranho.
Bondage: prática onde a excitação vem de amarrar ou/e imobilizar o parceiro.
Bukkake: modalidade de sexo grupal praticado com uma pessoa que “recebe” no rosto a ejaculação de diversos homens.
Coleopterafilia: atração sexual por besouros.
Coprofagia: fetiche pela ingestão de fezes.
Coprofilia: fetiche pela manipulação de fezes, suas ou do parceiro.
Coreofilia: excitação sexual pela dança.
Crinofilia: excitação sexual por secreções – saliva, suor e secreções vaginais.
Crematistofilia: excitação sexual ao dar dinheiro, ser roubado, chantageado ou extorquido pelo parceiro.
Cyprinuscarpiofilia: excitação sexual por carpas.
Dendrofilia: atração por plantas.
Emetofilia: excitação obtida com o ato de vomitar ou com o vômito de outro.
Espectrofilia: prática medieval que consiste na excitação por fantasias com fantasmas, espíritos ou deuses.
Exibicionismo: fetiche por exibir os órgãos genitais.
Fetiche por balões: excitação ao tocar balões de látex – usados em festas.
Fisting: prazer com a a inserção da mão ou antebraço na vagina ou no ânus.
Flatofilia: prazer erótico em escutar, cheirar e apreciar gases intestinais próprios e alheios.
Galaxiafilia: atração sexual pelo aspecto leitoso da Via Láctea.
Gerontofilia: atração sexual de não-idosos por idosos.
Hipofilia: desejo sexual por equinos.
Imagoparafilia: prazer em imaginar-se com alguma parafilia.
Lactofilia: fetiche por observar ou sugar leite saindo dos seios.
Lolismo: preferência sexual e erótica de homens maduros por meninas adolescentes.
Kosupurefilia: excitação sexual por Cosplay.
Masoquismo: prazer ao sentir dor ou imaginar que a sente.
Menofilia: atração ou excitação por mulheres menstruadas.
Nanofilia: atração sexual por anões.
Necrofilia : atração por pessoas mortas.
Odaxelagnia: fetiche por mordidas.
Orquifilia: fetiche por testículos.
Partenofilia: fixação sexual por pessoas virgens.
Pigofilia: excitação sexual por nádegas.
Pirofilia: prazer sexual com fogo, vendo-o, queimando-se ou queimando objetos com ele.
Podolatria: fetiche por pés.
Pogonofilia: fetiche por barba.
Pregnofilia ou maieusofilia: fetiche por mulheres grávidas e/ou pela observação de partos.
Sadismo: prazer erótico com o sofrimento alheio.
Sadomasoquismo: prazer por sofrer e, ao mesmo tempo, impingir dor ao outro.
Sarilofilia: fetiche por saliva ou suor.
Sororilagnia: sexo com a própria irmã.
Trampling: fetiche no qual o indivíduo sente prazer ao ser pisado pelo parceiro.
Tricofilia: fetiche por cabelos e pelos.
Urofilia: excitação ao urinar no parceiro ou receber dele o jato urinário, ingerindo-o ou não.
Voyeurismo: prazer pela observação da intimidade de outras pessoas, que podem ou não estar nuas ou praticando sexo.
Zoofilia: prazer em relação sexual com animais.
A fonte dessa classificação (https://pt.wikipedia.org/wiki/Parafilia#Algumas_parafilias) não tem cunho científico, mas a lista dá uma ideia de quão longe pode ir o ser humano nas suas divagações eróticas…
Eu espero ver você nos próximos artigos e lá no canal! Por isso, cuide-se bem e até a próxima!